sábado, 18 de setembro de 2010

abri você com os olhos
e não vi sentido nenhum
nisso, tudo, ou
tudo feito em tanta pele
mas sem mundo não se via servia água quente e bocado derramada em cima
você abriu a boca
e não se distinguia nem fogo nem pele nem hálito
o que faria ali depois de tanta baixaria
que não adiantava só dançar só desejo te despejo um monte de saliva
abrindo seu corpo não encontrava o que queria
de tanta carne macia não sobrava nada além de restos
pedaços que devorava como um cão
trabalho que demorava, fiz, em quebra de ritmo; em guerra com o poema
disto daquilo ou de qualquer coisa
te cortando com as carícias da minha ansiedade da minha angústia
pensava em como seria longe demais para mim que nada quis

abrindo seus olhos não encontrei o que temia
segurando seu próprio intestino ventre aberto te deixo
a sonhar com uma vida menos vazia

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

ester

I
então, esperava ouvir a voz
impressão intensa, certa, poeta

II
de tantos poucos beijos
o mais longo. e macio
nem te esqueço
pra lembrar todas as repetições dessa vida que fossem possíveis
de tentar viver poesia que não volta em torno da lua
estrada, trilho, caindo perdendo sangrando
de tanto desencontro, esbarrões teciam
flores lindas de tanta
viver poesia que quis
e nem soube cuidar
subiam chaminés incríveis
escrevo pelo meio
sobram imagens infiéis
de tanto tão pouco tempo, fumaça de janela de ônibus,
à esquerda na volta, direita na ida
te dissimulo, assimilo, distorço
em interferência estúdio de pensamento tanto distante
beijo macio que não importa decifrar
marca como faca

segunda-feira, 21 de junho de 2010

foi o pentagrama que eu desenhei nas suas costas
seu corpo todo desenhado
fotografado nu sem desejo a câmera no chão
as costas
querendo estar vice-versa
de sentir seus pelos meus pelos minha virilha
de ritmo lento mas afoito
eu escorrendo em sua barriga
secreção suor
amarrou fitas em meus dedos, meu cabelo
meu corpo todo com fitas
esvoaçando no vento frio de céu cinza
árvore seca sem folhas de galhos secos
aparecida, salvador
nosso senhor do bom fim, bruxa queimada na fogueira
seu riso em meu beijo de canto pupila mamilo
e agora só cachos,
em todas costas em todos lugares
dedos em desígnios pelos poros orifícios
caprichos de signos, sinos, apitos
meu vento, de frio, de cinzas
fluindo labaredas em sua pele
é que eu podia sentir o cheiro de sua axila
me diluir tingir em seu corpo tenso
apodrecida
meu fogo lambia seu pescoço braço costas ânus
de cabeça para baixo
e o poema que eu ia escrever
não esqueci
levei papel e caneta não escrevi
o nome é assim
recheio de línguas seus buracos seu vazio

domingo, 6 de junho de 2010

falta e pé de
assim nem poesia em dia de mim
eu minto em mim sua pele
assim nem esgoto, rua que fede
falta em perde que

nem a mim quer mais um falso passo que nem deu
que meto em ti minha língua
que rompe as pregas do olho
e toda pálbebra é cinza seda
velcro de casamento
de espuma cria coisa

escuro em esquina te pego.

terça-feira, 4 de maio de 2010

depois eu quis dizer
que não precisava ser assim
e tudo podia ser diferente
mas nem ia adiantar
nem ia ouvir
eu disse falei falei
e tudo ficou assim
tão igual
nem você por mim
que tudo pôde ser diferente
você não quis
nem era pra dizer
não merecia
mas carecia
que fiquei com aquilo
e

segunda-feira, 3 de maio de 2010

tentei um jeito de dizer sem ser falando
nesse tom o som
  da minha voz ecoando em mim
mas não dizia
calada ficava
medo eu
que não dizia
a trava era minha
e essa sua mania de não se envolver
como pode perder uma mulher assim
eu gostei mais do que was suposed to be
me perco em mim
ecoando medo
a coisa em si

quis em todo dizer sem fim
nesse balanço o mesmo
meu pé indo em pêndulo
sem olhar pra trás
sua saliva meu quase não escrever
a água eu bebia
  tentando gosto e essa mania
desfaz sem com
nem arrepender

terça-feira, 27 de abril de 2010

entre a roda e o asfalto

eu já tenho muitos amigos que não sentem tesão por mim
já basta
de querer seu sexo
é assim que tem dois ou três poemas
nascendo e mudando na minha cabeça
e tudo mistura

eu devia estar entre a
já chega lê em meu texto
em minha pele
eu devia estar

eu tenho excesso de ela
assim é que eu separo cabelo de abraço
quis ficar entre
embaixo de um ônibus aquele ônibus
assim leu e eu, tive excesso
separei de repetido isso palavras
convenientes que voltaram
de viver esses toques
em poesia de corpo
e muro gigante

terça-feira, 13 de abril de 2010

os poemas não eram para alguém

I
foi o brilho de mistério nos meus olhos. foi de não saber ser. tornam ao opaco indeciso, confuso. de toda aproximação desastrosa, de carinho desastrado que sempre foi assim. olhos que não contam histórias, narram sempre o mesmo estado textura em que nada sabe nem nada muda. e o segredo que nem era, nem era nada, cabe também como luva à risível condição de estar se exposto. sempre transparente sem confiança, como oca vitrine de cristal.
o brilho, o segredo, veio de tanto gritar que ninguém ouvia sem susto, quando ouvia. de tanto contar, tanta erosão, o cristal se esbranquiçava. de tanto querer, tanto fazer.
e que nada adiantava em minha mudez e exagero, contar o que já era tão fácil percebido, mesmo do que eu escondia. sob camadas invisíveis. nada contava mais minha nudez que tentar escondê-la.

II
não se deve achar o brilho daqueles olhos, nenhuma era a menina deles, nem há razão de se assustar tanto sempre por ser eu inofensivo. de poemas antigos, coisas antigas, essa sempre foi a minha vida. nem sofro, nem mal, nem vítima, que de perplexo já me acostumei. tudo é brando e sobrevivo.
que em linhas antigas sempre se confundem, num esperado espelho olhavam as camadas e sem imagens se viam sempre iguais. nessas linhas, nesses versos sempre se perdiam, esses outros olhos, e medo não de mim, mas do vazio em que se reconheciam.
nem se deve tentar a identificação, nenhuma é a menina nem nunca foi. não dava, se meu olhar não denunciasse em todo momento minha carência de tudo: querer que não era espera. em já dita vontade do novo. por debaixo da cortina de vidro

III
em tudo isso passei por tanta análise e tanta síntese. tanto mal entendido que me perco. no pouco que sou. cabe tão bem como roupa, de textura muda.
por trás das vitrines-lentes de resina os meus olhos opacos.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

já posso ir deitar
já foi embora, muito antes que eu pudesse insistir a noite inteira
foi com medo, com preguiça, ou não importa
sem entrega e ridícula eu exposta
querendo os corpos nus, eu tirando um grosso véu de fumaça
fiquei, a andar agitada pela minha casa
sem querer mais pensar
mas já era tarde

por que as pessoas têm tanto medo de se entregar?
era tão simples, era por uma noite
nada pedi, nada esperei além.
tanto receio
tanto jogo

por que é tão simples para uns?
o que tinha de errado comigo

fui com medo, com vontade, e nem importa
eu entregue, vasta exposta

vou parar de andar
nem te ligar
te pensar
não pode voltar, já subiu e saltou do ônibus
já disse, já deve estar quase dormindo

que quis, e era só
fiquei com medo
quis, escolhi
mas agora tarde da noite
desde o encontro, nada de surpresa: vi e escolhi querer
mas agora chão, e nem a manhã, nem um dia
agora passos, fumaça de cigarros
só eu
escolhi pular nua, não posso voltar, não pode voltar, não deixa nem quer
não deixo e quero
agora conto - pulei no abismo e sabia
me perder

quinta-feira, 8 de abril de 2010

coisacristina

ah eu tenho que te contar tanta coisa
que a mulher também sou eu
tanta coisa
que há tanta água para eu chover
do vento frio que entra
janela, eu tenho tanta coisa
tanto encanto
que ela também sou eu
em seu sono eu me (re)velo
eu vela sombra e castiçal
luz elétrica em devaneio
em sua respiração
em meu ouvido
em seu toque
tão sutil de contido
de dentro do meu pensamento
meu toque em alto bom sono

quarta-feira, 7 de abril de 2010

luís

há espera
enquanto não há
o que fazer

e o telefone não toca
eu me toco
na promessa
há demora

meus dedos procurando insistentes
os axiomas do meu corpo
eu me cumpro

afinal
eu sou minha
a vontade é minha
e você não

terça-feira, 6 de abril de 2010

em cartaz (corte no escuro)

corto minhas pontas primeiro
a lâmina aponta
cenas de filme que não vi
os cinemas em que não fui
e encontros que não tive
com seus sensuais contatos no escuro
minhas unhas em algum pescoço
abaixado sobre minhas coxas
me lambendo
e todo aquele medo de alguém ver
sem se importar com alguém ver
e todo aquele rosto em mim
me seduzindo
como em tela grande teia rente
dias não tidos
noites sem medo

segunda-feira, 5 de abril de 2010

eu desejo várias pessoas
mas nenhuma me deseja
eu desejo minhas amigas
eu ando de cabeça baixa
eu sento no banco no meio do caminho
só para escrever essas linhas medíocres
eu desejo algumas pessoas
umas menos outras mais
eu me cansei de não ser atraente
o amor sem sexo

invisível
eu vejo as garotas da minha sala
dos bares
eu ando engraçado pulando
rápido
eu fujo dos olhares
que não são
de vontade
eu desejo desconhecidas
nenhuma me conhece
ninguém quer
eu tenho amigas
eu roo em volta das unhas
eu recebo desculpas
em resposta em troca de convites

eu não entendo a sensualidade
é natural não me desejar mais
eu ouço demais
minhas amigas evitam a idéia de me desejarem
eu queria ser desejável
é tão difícil só ser
é difícil ser sempre fonte e nunca sorvedouro
falar só
mesmo conversando
sem que me entenda
eu falo com as conhecidas
eu sou muito não
para ser desejável
eu fico sem ninguém
triste, fumaça

eu pego obsessão pelos assuntos recorrentes
não adianta
nenhuma fica para ouvir
quando eu me canso eu escrevo