quarta-feira, 29 de outubro de 2014

entrava em ti que em mim não cabia
de dentro de fora e envolta asa presa no corpo guelra teu corpo
quer em ti alguma pele minha entrava em língua mucosa molhada
embaixo encima unha dentro epiderme derme


entrava em mim que eu não bastava
de dentro partia e pra fora teu corpo vingava feito planta hera
que de ti alguma pele marcava
minha lida melava era teu quente dentro e enfiava

quinta-feira, 22 de maio de 2014

quando eu te amo, escrevo seu nome errado
quero ter em você todo meu olho pra arder no farelo que me esbarra
quando te escrevo, penso, penso, penso
quero que você surja íntima ínfima em um pedestal de pedra bruta
qual seja seu sentimento que nem em tempo nem em lugar
quando eu quero ter em você, já sei que tudo está errado
que nem que surja em cima da terra a pedra, a bolha, a rocha e metal
é funda a água que não lhe toca
nesse hesitar há mais aí do que mera composição, posição
as palavras esquivas batem repetidas na orelha, em sua cisma lhe mostram
a esfera bruta de puro metal
que em seu olho ocupou espaço
quando te desejo, te odeio, penso em você o tempo todo
quero ter você perto, comer seu pão, farinha, farelo, migalha
quando peno, quero que surja de cima dessa água sal
feito pedra bruta, quero em você misturar meus sentidos
ver que ínfima condição de poeta me encontro agora, do lado errado
quero em você toda essa minha condição de sentimento
que está na bolha que se abre, do inseto que emerge
da água que sai da terra, em cima de você meu olho é seu pedestal
nesse ritmo rito, antes
quero que você surja como peso, como penso, na terra em tempo
qual amor que você finca na terra
quando te odeio, te desejo, te adoro
nessa ínfima folha de metal que se desdobra até quebrar
forma o desenho de todos os versos
quando te escrevo, peso, eu sei que está tudo na terra
na boca, na coisa, na água
que você deixa escapar
já em cima da palavra que defenestro
é o inseto que se abre em sangue em bolha em ar
mas a esfera de puro bruto metal
faz do meu olhar peso, peso
quero que esse pedestal se rompa, pois ocupou todo meu espaço
quando eu te amo, escrevo seu nome de lado
quero a poeira que esbarro, barro
em você e me faz sujar
sei que tudo é terra, tudo é errado
que nada mais afunda nem faz flutuar
quando eu te amo, te levo
é leve saber que em cima da água
as folhas de terra vão passar.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

destruída esperava: quieta, calada, parada
no banco que não tinha fronteiras
todos os textos decorados na pele
ensaiava dentro
sair de si

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

sou mensageira do vento
da areia e do vento
peste em pé a ponto de destroçar
sou dente-de-leão, destaco

sou personagem e atuo, ajo laboro poesia
fronte e fruto
lóbulo macio e ativo
vejo esqueço passo
não há caminho por si sem passar
não seriam tão simples os fluxos

sou a deslanchar
desatar os nós, deixar de vê-los como raízes
sou a amar, na distância, sem segredo celebro
sou dito a tempo
na pressa de partir
à urgência de ser

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

mas torna ao cheiro indeciso do sexo
a marca que não se fez
o sexo e essa vontade que vem à tona
a essa vontade indecisa
desperta, anseia dia coisa qualquer coisa
escreve qualquer coisa que não se escreve
dormir leve pele sem foco
torna ao minuto impreciso da penetração: o susto