segunda-feira, 21 de junho de 2010

foi o pentagrama que eu desenhei nas suas costas
seu corpo todo desenhado
fotografado nu sem desejo a câmera no chão
as costas
querendo estar vice-versa
de sentir seus pelos meus pelos minha virilha
de ritmo lento mas afoito
eu escorrendo em sua barriga
secreção suor
amarrou fitas em meus dedos, meu cabelo
meu corpo todo com fitas
esvoaçando no vento frio de céu cinza
árvore seca sem folhas de galhos secos
aparecida, salvador
nosso senhor do bom fim, bruxa queimada na fogueira
seu riso em meu beijo de canto pupila mamilo
e agora só cachos,
em todas costas em todos lugares
dedos em desígnios pelos poros orifícios
caprichos de signos, sinos, apitos
meu vento, de frio, de cinzas
fluindo labaredas em sua pele
é que eu podia sentir o cheiro de sua axila
me diluir tingir em seu corpo tenso
apodrecida
meu fogo lambia seu pescoço braço costas ânus
de cabeça para baixo
e o poema que eu ia escrever
não esqueci
levei papel e caneta não escrevi
o nome é assim
recheio de línguas seus buracos seu vazio

6 comentários:

  1. quase ouvi os ruídos, os barulhos dos beijos, seu corpo de fitas e labaredas; o alvoroço das mãos e dedos; quase senti o suor da pele.
    profundo garota.
    profano.

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  2. Lindo. Boa maneira de começar o inverno.

    me lembrou um filme: o livro de cabeceira. Já viu? a moça gostava de escrever poemas no corpo dos outros e gostava que escrevessem coisas no corpo dela.

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  3. "meu corpo todo com fitas"

    lindão, hein!

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  4. "mistérios sempre há de pintar por aí."

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  5. Pois eu vi essa tela
    Essa fotografia
    Esse instante
    Esse filme
    Esse sonho
    Esse ser que foi que soube e que fez
    Esse papel que foi escrevito e rabiscado com o prazer que foi real e ainda até é!
    Eu até senti.

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