segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

seu coração arde
queria me enfiar no seu cabelo
seu coração parece que esfregou areia
queria me enfiar na sua vagina
parece que estragou meu dia
não ter mais dia pra sentir
e encontrar na parede
o dia que parece enfiar
um medo de ser e de tocar

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

entrava em ti que em mim não cabia
de dentro de fora e envolta asa presa no corpo guelra teu corpo
quer em ti alguma pele minha entrava em língua mucosa molhada
embaixo encima unha dentro epiderme derme


entrava em mim que eu não bastava
de dentro partia e pra fora teu corpo vingava feito planta hera
que de ti alguma pele marcava
minha lida melava era teu quente dentro e enfiava

quinta-feira, 22 de maio de 2014

quando eu te amo, escrevo seu nome errado
quero ter em você todo meu olho pra arder no farelo que me esbarra
quando te escrevo, penso, penso, penso
quero que você surja íntima ínfima em um pedestal de pedra bruta
qual seja seu sentimento que nem em tempo nem em lugar
quando eu quero ter em você, já sei que tudo está errado
que nem que surja em cima da terra a pedra, a bolha, a rocha e metal
é funda a água que não lhe toca
nesse hesitar há mais aí do que mera composição, posição
as palavras esquivas batem repetidas na orelha, em sua cisma lhe mostram
a esfera bruta de puro metal
que em seu olho ocupou espaço
quando te desejo, te odeio, penso em você o tempo todo
quero ter você perto, comer seu pão, farinha, farelo, migalha
quando peno, quero que surja de cima dessa água sal
feito pedra bruta, quero em você misturar meus sentidos
ver que ínfima condição de poeta me encontro agora, do lado errado
quero em você toda essa minha condição de sentimento
que está na bolha que se abre, do inseto que emerge
da água que sai da terra, em cima de você meu olho é seu pedestal
nesse ritmo rito, antes
quero que você surja como peso, como penso, na terra em tempo
qual amor que você finca na terra
quando te odeio, te desejo, te adoro
nessa ínfima folha de metal que se desdobra até quebrar
forma o desenho de todos os versos
quando te escrevo, peso, eu sei que está tudo na terra
na boca, na coisa, na água
que você deixa escapar
já em cima da palavra que defenestro
é o inseto que se abre em sangue em bolha em ar
mas a esfera de puro bruto metal
faz do meu olhar peso, peso
quero que esse pedestal se rompa, pois ocupou todo meu espaço
quando eu te amo, escrevo seu nome de lado
quero a poeira que esbarro, barro
em você e me faz sujar
sei que tudo é terra, tudo é errado
que nada mais afunda nem faz flutuar
quando eu te amo, te levo
é leve saber que em cima da água
as folhas de terra vão passar.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

destruída esperava: quieta, calada, parada
no banco que não tinha fronteiras
todos os textos decorados na pele
ensaiava dentro
sair de si

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

sou mensageira do vento
da areia e do vento
peste em pé a ponto de destroçar
sou dente-de-leão, destaco

sou personagem e atuo, ajo laboro poesia
fronte e fruto
lóbulo macio e ativo
vejo esqueço passo
não há caminho por si sem passar
não seriam tão simples os fluxos

sou a deslanchar
desatar os nós, deixar de vê-los como raízes
sou a amar, na distância, sem segredo celebro
sou dito a tempo
na pressa de partir
à urgência de ser

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

mas torna ao cheiro indeciso do sexo
a marca que não se fez
o sexo e essa vontade que vem à tona
a essa vontade indecisa
desperta, anseia dia coisa qualquer coisa
escreve qualquer coisa que não se escreve
dormir leve pele sem foco
torna ao minuto impreciso da penetração: o susto

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

eu já vou descobrir um jeito de sair desse labirinto
emaranhado de espinhos onde uma cobra
aponta outra / assim / sendo profundamente
[mais perigosa. vou apontar o prato a
[desgraça que você quebrou dessa vez vou


ficar com raiva.
nunca me interessou o que choca pouco
    minha vingança é sangue-frio / é sangue-quente
    te odeio com toda inocência da minha crueldade
    que sofra, inseto, sob meu sol de ódio de lente
    entre meu sal meu vidro meu tato

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

agora só resta a mim e só
eu mesma
aqui enfim então sou
ficou, restou só
aquele pedaço de mim que ninguém quis
sem título sem final sem sombra de dúvida
devia ficar eu aqui

ficou aquele pedaço que fica quando você me deixa
um véu, um céu, um sinal
aquela desolação histérica
confusa

ainda no que me resta
passo sem ver por cima de mim

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

estaremos todas sozinhas, só então entenderemos
perdemos o foco, mas não a visão
estamos todas perdidas, paradas, zanzando, zunando, toda força
(eu não sei escrever correspondência, é poesia, é poesia!)
estava lá sem ver, sem estar, estava sem força
estava lá, grito angustiado, diafragma doído dos soluços
estava. sem gritos mais, sem soluços nem soluções
a dor. a dor.
eu não era muitas, era uma.

no dia em que perderemos todas as roupas, todos os gestos, toda a pele
eu estava lá, nesse dia.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

todas as cores são cinza

ali você me fazia monstro
se fazia tudo
eu já nem te amava tanto assim
amor é erva daninha
me matava pelos cantos, pelo dentro
me pintava feia, num espelho morno

ali perdia tudo
o desespero que queima meus poemas
a dislexia dos meus poemas pendia lasciva
como que queria fazer sexo
suspensa nas suas pernas
era assim que passava mais papel filme
sobre essa coisa

olha, você tem que aprender a me deixar ir embora

quarta-feira, 27 de julho de 2011

eu que pensei que ia ser feliz
não penso mais
no toque que não alcança a pétala de papel

a covardia desenhou a placa de metal
ardia sob fogo macio
na minha pele transparente

aquela imagem refletiu em infinitos
espelhos paralelos até perder a intensidade
mesmo sem me permitir sentir raiva
foi


eu que lapidei infinitos cacos de espelhos
até perder de ver brilho em

cartas incompletas poemas incompletos
como se tudo pudesse ser diferente
não cabe não tem espaço
nem sabe nem sobra pedaço

domingo, 20 de março de 2011

de tudo que quis só encontrei a culpa minha. o decoro, o contimento, a antítese. não me encontrei nesse labirinto que. a muda da árvore que eu plantei no dia em que nasci e quis tatuar no meu corpo foi transplantada para longe da minha casa e não resistiu no dia dos meus quinze anos. o coro, refrão eminente, o choro, faz da ausência sono pesado, sem libido, sem vigor.

mate-me, pela metade que sou e não sustento.

no papel que desenho minhas falas e não decoro. que essa frase única é que ecoa violenta num espaço de vácuo fechado na minha consciência. em que vejo inscrito algum mundo. passa uma angústia de tanta coisa, de tanta fúria e poço de sensualidade.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

sua música costurou tudo num dia lindo
flauta-agulha em delicado nó com melodia-linha
por buraco fino que dedos destros manipulavam
e lábios sustentavam esse doce metal

e ao toque de um olhar insutil,
o semblante encantador




nem cego nem surdo:
contempla impressão causada
revive na memória pequeno momento
até querer aquele olhar anfíbio
pendido na melancolia de um poema mal lido
e de vontade absurda
uma qualquer esperança pendurada
e desses tantos penduricalhos
um móbile no tempo se formando




duas cabeças
em jardim colcha de retalhos toda colorida
cheia de costura cada palavra trabalhada
cada quadrado entregado
uma folha de papel mal lida
com um poema desenhado
pela linha que formam no ar
todas as bolinhas da partitura

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

III O ultimato doloso-mudo

hoje não uso cinza
nem que seja só até melhorar do estômago
ou até os jambos logo pularem das árvores
sempre que começam as chuvas
quem mofam os sapatos
e fazem poesia nas redes sociais

agora não acho graça da minha desgraça alheia
que nem a eficiência do meu esquecimento
faz mais
enquanto não saio de casa
não me abriga a sola
ou os problemas da ansiedade
que fazem teorias depois do almoço
não ciscam no chão como galinhas e pombos
mas escavam rápido como vermes vampiros

II A idéia recorrende prévia

queria voltar no tempo
para tirar vantagem de tudo que já aprendi
que não adianta nada saber agora

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

I Um segundo momento indistindo

invento um novo você para mim
e aparece um poema substantivo vazio mais-profundo
tudo assunto inacabado

também o livro que emprestei eu o mesmo livro

amarrados gafanhotos
cigarras enterras o ano inteiro
como o vislumbre de uma vida de um dia
não rio da graça do seu riso
almofadas para as joaninhas e bichos de goiaba
comia toda
sem bicho sem grilo
sem roupa sem biquini sua forma

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

τέραος

zomba com sua beleza distante do meu desejo reprimido detesto

disperso nem te percebo partir

fino fio dói por vencida uni verso tangencia apenas

válvula em mamífero ou gônodas de flor, não em sua volúpia disfarçada filtro passa faixa

aqui mal entendida resmungando vespas épicas

descreve incessante tera número de proezas pequenas minúsculas

sábado, 18 de setembro de 2010

abri você com os olhos
e não vi sentido nenhum
nisso, tudo, ou
tudo feito em tanta pele
mas sem mundo não se via servia água quente e bocado derramada em cima
você abriu a boca
e não se distinguia nem fogo nem pele nem hálito
o que faria ali depois de tanta baixaria
que não adiantava só dançar só desejo te despejo um monte de saliva
abrindo seu corpo não encontrava o que queria
de tanta carne macia não sobrava nada além de restos
pedaços que devorava como um cão
trabalho que demorava, fiz, em quebra de ritmo; em guerra com o poema
disto daquilo ou de qualquer coisa
te cortando com as carícias da minha ansiedade da minha angústia
pensava em como seria longe demais para mim que nada quis

abrindo seus olhos não encontrei o que temia
segurando seu próprio intestino ventre aberto te deixo
a sonhar com uma vida menos vazia

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

ester

I
então, esperava ouvir a voz
impressão intensa, certa, poeta

II
de tantos poucos beijos
o mais longo. e macio
nem te esqueço
pra lembrar todas as repetições dessa vida que fossem possíveis
de tentar viver poesia que não volta em torno da lua
estrada, trilho, caindo perdendo sangrando
de tanto desencontro, esbarrões teciam
flores lindas de tanta
viver poesia que quis
e nem soube cuidar
subiam chaminés incríveis
escrevo pelo meio
sobram imagens infiéis
de tanto tão pouco tempo, fumaça de janela de ônibus,
à esquerda na volta, direita na ida
te dissimulo, assimilo, distorço
em interferência estúdio de pensamento tanto distante
beijo macio que não importa decifrar
marca como faca

segunda-feira, 21 de junho de 2010

foi o pentagrama que eu desenhei nas suas costas
seu corpo todo desenhado
fotografado nu sem desejo a câmera no chão
as costas
querendo estar vice-versa
de sentir seus pelos meus pelos minha virilha
de ritmo lento mas afoito
eu escorrendo em sua barriga
secreção suor
amarrou fitas em meus dedos, meu cabelo
meu corpo todo com fitas
esvoaçando no vento frio de céu cinza
árvore seca sem folhas de galhos secos
aparecida, salvador
nosso senhor do bom fim, bruxa queimada na fogueira
seu riso em meu beijo de canto pupila mamilo
e agora só cachos,
em todas costas em todos lugares
dedos em desígnios pelos poros orifícios
caprichos de signos, sinos, apitos
meu vento, de frio, de cinzas
fluindo labaredas em sua pele
é que eu podia sentir o cheiro de sua axila
me diluir tingir em seu corpo tenso
apodrecida
meu fogo lambia seu pescoço braço costas ânus
de cabeça para baixo
e o poema que eu ia escrever
não esqueci
levei papel e caneta não escrevi
o nome é assim
recheio de línguas seus buracos seu vazio

domingo, 6 de junho de 2010

falta e pé de
assim nem poesia em dia de mim
eu minto em mim sua pele
assim nem esgoto, rua que fede
falta em perde que

nem a mim quer mais um falso passo que nem deu
que meto em ti minha língua
que rompe as pregas do olho
e toda pálbebra é cinza seda
velcro de casamento
de espuma cria coisa

escuro em esquina te pego.

terça-feira, 4 de maio de 2010

depois eu quis dizer
que não precisava ser assim
e tudo podia ser diferente
mas nem ia adiantar
nem ia ouvir
eu disse falei falei
e tudo ficou assim
tão igual
nem você por mim
que tudo pôde ser diferente
você não quis
nem era pra dizer
não merecia
mas carecia
que fiquei com aquilo
e

segunda-feira, 3 de maio de 2010

tentei um jeito de dizer sem ser falando
nesse tom o som
  da minha voz ecoando em mim
mas não dizia
calada ficava
medo eu
que não dizia
a trava era minha
e essa sua mania de não se envolver
como pode perder uma mulher assim
eu gostei mais do que was suposed to be
me perco em mim
ecoando medo
a coisa em si

quis em todo dizer sem fim
nesse balanço o mesmo
meu pé indo em pêndulo
sem olhar pra trás
sua saliva meu quase não escrever
a água eu bebia
  tentando gosto e essa mania
desfaz sem com
nem arrepender

terça-feira, 27 de abril de 2010

entre a roda e o asfalto

eu já tenho muitos amigos que não sentem tesão por mim
já basta
de querer seu sexo
é assim que tem dois ou três poemas
nascendo e mudando na minha cabeça
e tudo mistura

eu devia estar entre a
já chega lê em meu texto
em minha pele
eu devia estar

eu tenho excesso de ela
assim é que eu separo cabelo de abraço
quis ficar entre
embaixo de um ônibus aquele ônibus
assim leu e eu, tive excesso
separei de repetido isso palavras
convenientes que voltaram
de viver esses toques
em poesia de corpo
e muro gigante

terça-feira, 13 de abril de 2010

os poemas não eram para alguém

I
foi o brilho de mistério nos meus olhos. foi de não saber ser. tornam ao opaco indeciso, confuso. de toda aproximação desastrosa, de carinho desastrado que sempre foi assim. olhos que não contam histórias, narram sempre o mesmo estado textura em que nada sabe nem nada muda. e o segredo que nem era, nem era nada, cabe também como luva à risível condição de estar se exposto. sempre transparente sem confiança, como oca vitrine de cristal.
o brilho, o segredo, veio de tanto gritar que ninguém ouvia sem susto, quando ouvia. de tanto contar, tanta erosão, o cristal se esbranquiçava. de tanto querer, tanto fazer.
e que nada adiantava em minha mudez e exagero, contar o que já era tão fácil percebido, mesmo do que eu escondia. sob camadas invisíveis. nada contava mais minha nudez que tentar escondê-la.

II
não se deve achar o brilho daqueles olhos, nenhuma era a menina deles, nem há razão de se assustar tanto sempre por ser eu inofensivo. de poemas antigos, coisas antigas, essa sempre foi a minha vida. nem sofro, nem mal, nem vítima, que de perplexo já me acostumei. tudo é brando e sobrevivo.
que em linhas antigas sempre se confundem, num esperado espelho olhavam as camadas e sem imagens se viam sempre iguais. nessas linhas, nesses versos sempre se perdiam, esses outros olhos, e medo não de mim, mas do vazio em que se reconheciam.
nem se deve tentar a identificação, nenhuma é a menina nem nunca foi. não dava, se meu olhar não denunciasse em todo momento minha carência de tudo: querer que não era espera. em já dita vontade do novo. por debaixo da cortina de vidro

III
em tudo isso passei por tanta análise e tanta síntese. tanto mal entendido que me perco. no pouco que sou. cabe tão bem como roupa, de textura muda.
por trás das vitrines-lentes de resina os meus olhos opacos.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

já posso ir deitar
já foi embora, muito antes que eu pudesse insistir a noite inteira
foi com medo, com preguiça, ou não importa
sem entrega e ridícula eu exposta
querendo os corpos nus, eu tirando um grosso véu de fumaça
fiquei, a andar agitada pela minha casa
sem querer mais pensar
mas já era tarde

por que as pessoas têm tanto medo de se entregar?
era tão simples, era por uma noite
nada pedi, nada esperei além.
tanto receio
tanto jogo

por que é tão simples para uns?
o que tinha de errado comigo

fui com medo, com vontade, e nem importa
eu entregue, vasta exposta

vou parar de andar
nem te ligar
te pensar
não pode voltar, já subiu e saltou do ônibus
já disse, já deve estar quase dormindo

que quis, e era só
fiquei com medo
quis, escolhi
mas agora tarde da noite
desde o encontro, nada de surpresa: vi e escolhi querer
mas agora chão, e nem a manhã, nem um dia
agora passos, fumaça de cigarros
só eu
escolhi pular nua, não posso voltar, não pode voltar, não deixa nem quer
não deixo e quero
agora conto - pulei no abismo e sabia
me perder

quinta-feira, 8 de abril de 2010

coisacristina

ah eu tenho que te contar tanta coisa
que a mulher também sou eu
tanta coisa
que há tanta água para eu chover
do vento frio que entra
janela, eu tenho tanta coisa
tanto encanto
que ela também sou eu
em seu sono eu me (re)velo
eu vela sombra e castiçal
luz elétrica em devaneio
em sua respiração
em meu ouvido
em seu toque
tão sutil de contido
de dentro do meu pensamento
meu toque em alto bom sono

quarta-feira, 7 de abril de 2010

luís

há espera
enquanto não há
o que fazer

e o telefone não toca
eu me toco
na promessa
há demora

meus dedos procurando insistentes
os axiomas do meu corpo
eu me cumpro

afinal
eu sou minha
a vontade é minha
e você não

terça-feira, 6 de abril de 2010

em cartaz (corte no escuro)

corto minhas pontas primeiro
a lâmina aponta
cenas de filme que não vi
os cinemas em que não fui
e encontros que não tive
com seus sensuais contatos no escuro
minhas unhas em algum pescoço
abaixado sobre minhas coxas
me lambendo
e todo aquele medo de alguém ver
sem se importar com alguém ver
e todo aquele rosto em mim
me seduzindo
como em tela grande teia rente
dias não tidos
noites sem medo

segunda-feira, 5 de abril de 2010

eu desejo várias pessoas
mas nenhuma me deseja
eu desejo minhas amigas
eu ando de cabeça baixa
eu sento no banco no meio do caminho
só para escrever essas linhas medíocres
eu desejo algumas pessoas
umas menos outras mais
eu me cansei de não ser atraente
o amor sem sexo

invisível
eu vejo as garotas da minha sala
dos bares
eu ando engraçado pulando
rápido
eu fujo dos olhares
que não são
de vontade
eu desejo desconhecidas
nenhuma me conhece
ninguém quer
eu tenho amigas
eu roo em volta das unhas
eu recebo desculpas
em resposta em troca de convites

eu não entendo a sensualidade
é natural não me desejar mais
eu ouço demais
minhas amigas evitam a idéia de me desejarem
eu queria ser desejável
é tão difícil só ser
é difícil ser sempre fonte e nunca sorvedouro
falar só
mesmo conversando
sem que me entenda
eu falo com as conhecidas
eu sou muito não
para ser desejável
eu fico sem ninguém
triste, fumaça

eu pego obsessão pelos assuntos recorrentes
não adianta
nenhuma fica para ouvir
quando eu me canso eu escrevo